Escrevo numa condição precária
Numa urgência de viver
Para estabelecer contacto com a própria vida
Os afetos se interpõem com suas ausências
Estancados pela necessidade visceral
Numa condição também precária
E faço com que as pessoas se ausentem de mim
Por não caber na contemporaneidade,
Sofro uma dor estanque
Busco companhia nas palavras
Um livro: uma coletividade
Um romance: uma vida inteira
Para, assim, não se esquecer de ser gente
Que minha humanidade não se aparte
Quem sabe uma reconciliação
Talvez o descortinar
De relações amenas e calorosas
Quente como o sol que aquiesce
Pequenas dores resolutas
Firmarão sua presença
Pequenas pessoas com pés e mãos surgirão
Mas pessoas inteiras se corporificarão
Serei companhia para um companheiro?
Tornar-me-ei imprescindível temporariamente na longa viagem?
Quererá o viajante minhas mãos quentes
Para aquecer as suas ?
Naquela que então será a nossa jornada
Seu coração reverberará por mim
Haverá obstáculos que impeçam
A ecolocalização de nossos sentires ?
Seremos golfinhos nas águas?
Seremos morcegos no ar?
Guiaremos-nos, encontrar-nos-emos
Pelo sonar
De palavras inauditas
De balbucios
De suspiros
De grunhidos
De assovios
E nesse reconhecimento mútuo
Entoaremos nosso próprio cântico
E o mistério que se encerra nas palavras
Permanecerá calado, mudo...
Porém mutável
segunda-feira, 17 de maio de 2010
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